quinta-feira, 8 de julho de 2010

Deitado nos Trilhos

Saudade dos anos de irresponsabilidade. Saudade que parece ser inerente à irresponsabilidade ainda vivida. Dos tempos de colégio, que se passaram rápidos como nunca. Da vida desregrada e curiosa da juventude. Ansiosa por novos sabores, por novos saberes, pessoas, vícios, paixões, pesares. A música rebelde, suja e descabida – a ambrosia de cada dia. A roupa rasgada, mal passada. As bebidas baratas. Drogas baratas. Os jovens baratos. As saídas desavisadas, sem medo ou noção de perigo. Sem testemunho de morte iminente – a morte se punha distante. Longe de nossos peitos de aço e palha por dentro. Saudade dos amores que até a pouco reluziam nas calçadas empoleiradas ao vento das tardes, nas praças e terrenos baldios. De iniciações e términos. Círculos de conluio, de ocultismo adolescente, de disputa e de não saber o que há por ai afora e prestar-se sabendo de muito pelo mínimo que se conseguiu saber até aquele momento. Querer ter razão e direito de falar, brigar, discutir, beber e baforar na cara dos mais velhos hipócritas da história. Hoje ainda carrego muitos desses hábitos, não apenas na memória como outros. Alguns nem ao menos souberam o que é isso. Não explodiram de suas urnas funerárias para se espalhar nas águas límpidas dos esgotos da sociedade cega. Talvez porque não sabiam ou não se deram conta de que eram eles mesmos caminhos para o óbito. Porque quando se encara através dessa perspectiva, a vontade que se tem é de... Chupar todos os seres vegetais, animados e inanimados de uma e somente uma destroçante vez. Deglutir o cabível e o incabível. Englobar até a si mesmo. Para saber como são, que gosto têm, quais efeitos causam, tipos de loucura. Fome de delírio. Experimentar no laboratório a céu aberto ou escondido debaixo dele. Querer morrer e não saber quando.
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Porra.