quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ode à Príapo.


Eu falo.
Eu membro.
Minha cabeça é uma glande com cérebro.
Não me movimento, estou estático, petrificado. Minhas pernas estão presas por um saco escrotal que as envolve. Ereto, meu corpo se estende, apontando às estrelas.
Jorra então no abismo lácteo, a autofagia.
Homo Erectus.
Eu falo.

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Obs.: Foto, pênis de uma espécie de besouro:

"Em algumas espécies de besouros, os machos arrumaram uma solução drástica para o sucesso reprodutivo. Os pênis possuem espinhos que machucam a genitália feminina, dessa forma a fêmea não é capaz de ser fecundada novamente.

As fêmeas, pelo outro lado, possuem um tecido bem elástico e capaz de se regenerar. Machos que machucam mais possuem uma ninhada só sua, fêmeas que se recuperam rapidamente possuem uma ninhada mais diversa. Nessa dinâmica, os pênis ficam cada vez maiores e mais agressivos e as vaginas se regeneram cada vez mais."
Fonte: http://forum.outerspace.terra.com.br/showthread.php?t=206183

sábado, 7 de agosto de 2010

OAD. 6

I.

O instante pousado no ar.
O bater de asas de uma borboleta metálica.
O abrir e fechar das pálpebras.
O nascer, acordar. O morrer, sonhar.
A viela. O assalto da traíra a engolfar o rio.
Estar preso e sorrir (mostrar os dentes manchados de sangue).
Mostrar as feridas. Rasgar os nervos inchados das lágrimas.
Soltar os soluços inflamados e doentes.
Queimar os ossos dos caros e beber as cinzas doloridas.
Beijar o laço da forca.
Pular com olhar paralelo de braços abertos.
Expirar o fenecer do destroncamento da cervical e mandíbula.
Permanecer de globos calados.
Chorar ardentemente com a boca no pano,
Para abafar a dor e o desespero.

E os gemidos lentos.
As baforadas néscias engolidas com a garganta fechada.
As unhas que gritam e arrancam valas de pesar e
Acalentares de cadáveres.
E os fluidos de desconhecidos que só se encontram com a morte.
O deitar por sobre a terra escura e úmida.

Perder-se nas brumas do arrepender-se.
Ser cego, surdo, mudo, sem paladar e sem tato.
O baque do golpe.
O palor estático.
O estado catatônico e langoroso. Os dedos babando em cima das colheres e das situações humilhantes e espairecidas.
Dormir e não mais despertar.

II.

Os murmúrios, à guisa dos panos e fitas ao vento,
Terminam e desfiguram os calos.
O calar-se é o preceito instável instalado na ordem do Macrocaos.
Se a forma contasse; chegaria por números, no máximo, aos pés da Miséria.
O empilhamento de reminiscências se faz constante.
As raspas de epiderme. Os vestígios.
As marcas não notadas. As notas desgarradas.
Continuidade que aspira acabar-se em prantos.
Nas tangentes e escapadelas.
O culus nas composições é frequente. É recurso inconsciente.
O subalterno ascende como a chama nas chamadas.
O peito tora como o tórax nas queimadas.
O olhar se expande no baixar, e cai distendido.
A queda brusca.
O auxílio é peculiar como as alfaces nas folhas auriculares.
O drama, o estrago. O estribo e o esterco que deglutimos de boa vontade.
Os tragos que cuspimos para ingerir mudança psíquica.
Escapar. Correr e rasgar a gengiva e a testa.
Abrir as irradiações nervosas com as farpas do dia a dia.
Gritar e grunhir imbuído na lavagem.
Ausência, reclusão, descaso – farsas.
Hostes interiores. Conflito subjetivo enterrado abaixo dos pelos.
Encravado. Talhado. Incutido. Humilhado no húmus do cérebro apodrecido.
Noventa agulhas em cada vértebra.
Um punhal a rasgar cada minuto de bem estar. Débil.
Escapar.
Anticorpos para autodestruição corpuscular.
Sanatórios para chupar vagarosamente o que resta de esperança.
As ideias de temperança destituídas. Prostituídas as crianças se calam e não mais perguntam.
Os encaixes de pernas têm apenas ossos secos.
Encaixotados na crueza elas, as línguas, têm convulsões vomitórias e hemorrágicas.
Escalpelar-se. Fugir na calda da estranheza. Morar e esmorecer.
Sufocado à dúvida. Escapar.

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OAD - Outros de Alan David. Quando não tenho título para dar ao poema...