sábado, 7 de agosto de 2010

OAD. 6

I.

O instante pousado no ar.
O bater de asas de uma borboleta metálica.
O abrir e fechar das pálpebras.
O nascer, acordar. O morrer, sonhar.
A viela. O assalto da traíra a engolfar o rio.
Estar preso e sorrir (mostrar os dentes manchados de sangue).
Mostrar as feridas. Rasgar os nervos inchados das lágrimas.
Soltar os soluços inflamados e doentes.
Queimar os ossos dos caros e beber as cinzas doloridas.
Beijar o laço da forca.
Pular com olhar paralelo de braços abertos.
Expirar o fenecer do destroncamento da cervical e mandíbula.
Permanecer de globos calados.
Chorar ardentemente com a boca no pano,
Para abafar a dor e o desespero.

E os gemidos lentos.
As baforadas néscias engolidas com a garganta fechada.
As unhas que gritam e arrancam valas de pesar e
Acalentares de cadáveres.
E os fluidos de desconhecidos que só se encontram com a morte.
O deitar por sobre a terra escura e úmida.

Perder-se nas brumas do arrepender-se.
Ser cego, surdo, mudo, sem paladar e sem tato.
O baque do golpe.
O palor estático.
O estado catatônico e langoroso. Os dedos babando em cima das colheres e das situações humilhantes e espairecidas.
Dormir e não mais despertar.

II.

Os murmúrios, à guisa dos panos e fitas ao vento,
Terminam e desfiguram os calos.
O calar-se é o preceito instável instalado na ordem do Macrocaos.
Se a forma contasse; chegaria por números, no máximo, aos pés da Miséria.
O empilhamento de reminiscências se faz constante.
As raspas de epiderme. Os vestígios.
As marcas não notadas. As notas desgarradas.
Continuidade que aspira acabar-se em prantos.
Nas tangentes e escapadelas.
O culus nas composições é frequente. É recurso inconsciente.
O subalterno ascende como a chama nas chamadas.
O peito tora como o tórax nas queimadas.
O olhar se expande no baixar, e cai distendido.
A queda brusca.
O auxílio é peculiar como as alfaces nas folhas auriculares.
O drama, o estrago. O estribo e o esterco que deglutimos de boa vontade.
Os tragos que cuspimos para ingerir mudança psíquica.
Escapar. Correr e rasgar a gengiva e a testa.
Abrir as irradiações nervosas com as farpas do dia a dia.
Gritar e grunhir imbuído na lavagem.
Ausência, reclusão, descaso – farsas.
Hostes interiores. Conflito subjetivo enterrado abaixo dos pelos.
Encravado. Talhado. Incutido. Humilhado no húmus do cérebro apodrecido.
Noventa agulhas em cada vértebra.
Um punhal a rasgar cada minuto de bem estar. Débil.
Escapar.
Anticorpos para autodestruição corpuscular.
Sanatórios para chupar vagarosamente o que resta de esperança.
As ideias de temperança destituídas. Prostituídas as crianças se calam e não mais perguntam.
Os encaixes de pernas têm apenas ossos secos.
Encaixotados na crueza elas, as línguas, têm convulsões vomitórias e hemorrágicas.
Escalpelar-se. Fugir na calda da estranheza. Morar e esmorecer.
Sufocado à dúvida. Escapar.

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OAD - Outros de Alan David. Quando não tenho título para dar ao poema...

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