domingo, 10 de outubro de 2010

A tumba esquecida




Dentre o úmido húmus
Uma fenda na terra estéril se escondia
Como a flor no botão
Tal a mulher no vestido
Ou sua senda na calcinha

A gruta molhada e morna
De jardim, só um fruto tinha
E era um pomo reluzente
Lúrido como o astro noturno
Sereno
Calmo como o gozo dos porcos

Ali perto, nem ao menos no interior
Já se sentia o aroma de Artemísia
Os eucaliptos chilreavam exalando
Um cheiro que nem de longe alcançava
A glória daquela preciosidade íntima

Da penetração em diante, o calor invadia tal tumba
O corpo nem se notava vivo
Nem se importava morto
Todavia se interessava o cheiro
E era pura atração
Não sei se, na loucura, putrefação
Mas, era inebriante
E veja que de éter não faço caso

Ora, que ao arrombar aquele orifício pulsante
Sobreveio alívio, tontura e arrepio
Vacilante no sobressalto, ergui o pau
Que vedava a entrada
De um caixão que encontrei na estrada

De estadia não se dizia nada
Valor, cachet, pedágio, nada...
A estranheza coça a nuca dos espertos
E em fato de se duvidar, logo se apresenta
Olha, e nem há de se apoquentar
Aquele que sabe do que se trata
Ou lambeu, ou já viu

O que me ocorreu foi um assalto enérgico
Uma chama que me percorreu nas partes que interessam
Ao ver a cena que causa desmaio, ataque ou ereção
Era um corpo esguio, das primas carnes macias, quentes e
Borrifadas, torneadas como que por uma escultora experiente com o meio das pernas
Uma ninfa luzidia se corrompia com a própria beleza se abrasando
E convidando com o dedo perfurador
Para então cair como morto
Naquele buraco.

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Para lembrar os velhos tempos de Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos...